Micro e pequenas têm pior faturamento desde 2009
2014 deverá ser um ano perdido para as micro e pequenas empresas do Estado de São Paulo. Foi um período no qual o mau desempenho da economia – retratado aqui pela inflação alta, a queda na confiança e a piora nas condições do crédito – refletiu sobre o resultado dessas empresas.
Isso porque, diferentemente das grandes, elas dependem estritamente do bom humor dos consumidores do mercado interno.
Dados apurados pela pesquisa Indicadores Sebrae-SP (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo), mostram que o faturamento acumulado de janeiro a novembro de 2014 foi de R$ 539,2 bilhões.
O resultado apresenta uma queda real de 0,7% na comparação com o mesmo intervalo de 2013, quando micro e pequenas faturaram R$ 543,20 bilhões. No período acumulado em 11 meses do ano passado, esse foi o pior indicador desde 2009.
O faturamento do ano fechado, que incluirá dezembro, será divulgado em fevereiro. E apesar desse número incluir o que costuma ser o melhor mês para as vendas das empresas, a expectativa não é animadora.
“Estimamos que o crescimento de 2014 sobre 2013 seja ligeiramente negativo ou mesmo de zero”, afirma Letícia Aguiar, consultora do Sebrae-SP. Assim, dificilmente, o resultado cheio do ano irá superar o faturamento das micro e pequenas empresas em 2013, que foi de R$ 596,8 bilhões no Estado de São Paulo.
Apenas em novembro, a receita das micro e pequenas no Estado foi de R$ 48,5 bilhões, R$ 2,9 bilhões a menos do que em novembro de 2013. A queda real no mês, ou seja, descontada a inflação medida pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) de 2014, foi de 5,7% na comparação com novembro de 2013.
Para se ter uma ideia, ao longo de 2014, o faturamento dessas empresas apresentou queda em sete meses. Sazonalmente, novembro é um mês que não costuma ser ruim para as vendas, já que nele os consumidores começam a receber a primeira parcela do décimo-terceiro salário.
Em 2014, porém, pela primeira vez que houve uma queda no faturamento das micro e pequenas em um mês de novembro desde 2008.
O levantamento mostra que o comércio foi o setor que mais teve redução no faturamento. Em novembro do ano passado, o recuo foi de 9,3%, maior do que a retração da indústria (4,2%) e do setor de serviços (2%).
O fraco desempenho do comércio também ajuda a explicar a redução no faturamento das micro e pequenas empresas do interior, que foi de 10,5% em novembro de 2014 sobre igual mês de 2013. “Apesar de concentrar indústrias, o interior depende muito do comércio”, diz Letícia.
No município de São Paulo, a redução da receita das micro e pequenas empresas foi de 6,8%. A Região Metropolitana de São Paulo respondeu por uma queda de 1%.
No Estado, apenas as micro e pequenas empresas do Grande ABC apresentaram resultado positivo, com aumento de 3% no faturamento em novembro do ano passado ante o mesmo mês de 2013.
2015 NÃO DEVE SER MELHOR
A expectativa da consultora do Sebrae-SP é que a economia não apresentará grande crescimento em 2015, por causa dos ajustes que serão realizados pelo governo, e isso continuará influenciando o faturamento das micro e pequenas empresas.
“Um dos fatores que reduziu os ganhos no ano passado foi a inflação alta, que ainda está corroendo o poder de compra do consumidor. Neste ano, já observamos a alta dos preços da energia elétrica”, afirma.
De acordo com a pesquisa, houve um recorde de pessimismo entre os micro e pequenos empresários. O levantamento ouviu 2.716 proprietários no Estado no mês passado.
Em dezembro, 29% deles afirmaram acreditar em uma piora na situação da economia nos próximos seis meses, o maior percentual desde o início da série histórica da pesquisa do Sebrae-SP, iniciada em maio de 2005.
Os que esperam estabilidade da economia somaram 45% e apenas 17% disseram que haverá uma melhora na atividade. Do total de entrevistados, 9% não souberam responder.
Para 2015, a expectativa em relação ao desempenho do negócio também diminuiu. Em dezembro, 57% deles disseram esperar que o faturamento permaneça estável nos próximos seis meses. Em 2013, esse percentual era de 54%.
Os otimistas com a melhora no faturamento representaram 25%, contra 30% em 2013. E o percentual dos que esperam uma piora passou de 7% em dezembro de 2013 para 10% no mesmo mês do ano passado.
Letícia diz que este ano será desafiador para o micro e pequeno empresário. “Ele deverá ser cuidadoso com empréstimos, por causa dos juros altos, e com a volatilidade do câmbio, caso faça importações. Deve buscar diferenciar seu produto ou serviço para se manter no mercado e aproveitar as datas sazonais do comércio”, afirma.
Fonte: Diário do Comércio